terça-feira, 16 de junho de 2009

Prazer pela metade

Não há nada que me deixe mais frustrada do que pedir sorvete de sobremesa,
contar os minutos até ele chegar e aí ver o garçom colocar na minha frente uma bolinha minúscula do meu sorvete preferido ? Uma só.
Quanto mais sofisticado o restaurante, menor a porção da sobremesa. Aí a vontade que dá é de passar numa loja de conveniência, comprar um litro de sorvete bem cremoso e saborear em casa com direito a repetir quantas vezes a gente quiser, sem pensar em calorias, boas maneiras ou moderação.
O sorvete é só um exemplo do que tem sido nosso cotidiano.
A vida anda cheia de meias porções, de prazeres meia-boca, de aventuras pela metade. A gente sai pra jantar, mas come pouco.
Vai à festa de casamento, mas resiste aos bombons.
Conquista a chamada liberdade sexual, mas tem que fingir que é difícil (a imensa maioria das mulheres continua com pavor de ser rotulada de 'fácil').
Adora tomar um banho demorado, mas se contém pra não desperdiçar os recursos do planeta.
Quer beijar aquele cara 20 anos mais novo, mas tem medo de fazer papel ridículo.
Tem vontade de ficar em casa vendo um DVD, esparramada no sofá, mas se obriga a ir malhar. E por aí vai.
Tantos deveres, tanta preocupação em 'acertar', tanto empenho em passar na vida sem pegar recuperação...
Aí a vida vai ficando sem tempero, politicamente correta eexistencialmente
sem-graça, enquanto a gente vai ficando melancolicamente sem tesão...
Às vezes dá vontade de fazer tudo 'errado' ? deixar de lado a régua,
o compasso, a bússola, a balança e os 10 mandamentos.
Ser ridícula, inadequada, incoerente e não estar nem aí pro que dizem e o que pensam a nosso respeito. Recusar prazeres incompletos e meias porções.
Até Santo Agostinho, que foi santo, uma vez se rebelou e disse uma frase mais ou menos assim: 'Deus, dai-me continência e castidade, mas não agora'...
Nós, que não aspiramos à santidade e estamos aqui de passagem, podemos (devemos?) desejar várias bolas de sorvete, bombons de muitos sabores, vários beijos bem dados, a água batendo sem pressa no corpo, o coração saciado.
Um dia a gente cria juízo. Um dia. Não tem que ser agora.
Por isso, garçom, por favor, me traga: cinco bolas de sorvete de chocolate, um sofá pra eu ver 10 episódios do 'Law and Order', uma caixa de trufas bem macias e o Richard Gere, nu, embrulhado pra presente. OK ? Não necessariamente nessa ordem.
Depois a gente vê como é que faz pra consertar o estrago.
Autora
***Leila Ferreira***

Leila Ferreira é uma jornalista que adora colecionar histórias das loucuras e das manias femininas. É autora do livro Mulheres: Por que Será que Elas...?, da Editora Globo

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ter nome estranho pode não ser tão estranho assim

Finalmente chegou o dia de saber a solução para o dente que lhe tem perturbado em noites intermitentes. Passados quarenta e cinco minutos desde que chegou, a moça olha seu nome na lista, olha mais uma vez e chama-o cuidadosamente. Todos ali presentes, engolindo a vontade de rir, trocam olhares em busca do dono daquele curioso. Envergonhado, Lindulfo se levanta e é, mais uma vez, alvo das atenções.
Situações constrangedoras são comuns com pessoas que têm nomes pouco populares. “Assim como todas as características evidentes dos seres humanos (magras, gordas, altas, baixas), os nomes, quando destoam de uma média essencialmente aceitas, são motivo de chacotas”, explica o psicólogo e professor Paulo Germano de Albuquerque.
Maria Marcineide de Moura, 24 anos, mais conhecida como Márcia, evita revelar sua verdadeira identidade para as pessoas. “Ficam confundindo. Já me chamaram até de marceneta. É constrangedor ter que ficar repetindo o nome várias vezes para as pessoas entenderem”, desabafa. Márcia quer ser Márcia no registro civil, oficialmente. Para isso, o primeiro passo é procurar um advogado ou um defensor público.
Depois de completar 18 anos, qualquer Fridundino ou algo do tipo pode tornar-se mais um Lucas ou mais uma Eliane na multidão sem precisar apresentar qualquer justificativa perante a justiça.
Segundo advogados, o processo dura no máximo seis meses. Um Dois Três de Oliveira Quatro, Colapso Cardíaco da Silva, Vinícius Mais ou Menos de Sousa, Naída Navinda Navolta Pereira que mudam para Fabiano, Eduardo, Lúcia, Fátima…
Quando a situação exige a mudança do nome patronímico, o sobrenome, é necessário dizer à justiça o porquê da mudança. Houve um caso em São Paulo de um rapaz que era da família Boa Morte. Fez faculdade e obteve licença para ser médico. Imagine ser atendido por um médico com o sobrenome Boa Morte. Então ele solicitou a mudança, mas teve que justificar, alegando que a necessidade era questão de sociabilidade profissional.
Também pode acontecer de a pessoa ter nome comum e querer mudá-lo por mero capricho. Um torcedor fanático do Manchester United queria se chamar Manchester United. O juiz da cidade permitiu somente que mudasse o primeiro nome para Manchester, mas impediu a mudança do sobrenome. Ficou algo como Manchester Rogers.
É essencial pensar nas conseqüências que um nome pode ter na vida de alguém. É importante estar atento à maneira de como um nome pode inserir melhor ou não uma pessoa dentro de uma coletividade. De acordo com o psicólogo Paulo Germano, “o nome faz parte da construção da personalidade da pessoa. Não é o único nem o mais importante fator construtor dela, mas à medida que a gente vai se constituindo como indivíduo, o nome passa a encarnar os valores ou pelo menos a nossa historia de vida. Esse nome só tem sentido pelas relações ao redor. O nome será engraçado e as conseqüências serão difíceis para o sujeito, dependendo da comunidade em que ele se encontra e da maneira que aquela comunidade ridiculariza ou não aquele nome”.
Se os pais insistirem em registrar o filho com um nome estranho, cabe ao cartorário se negar a registrá-lo. O escrevente autorizado do Cartório Registro Civil Distrito Mucuripe, Laécio Pereira de Moura conta que “teve gente que já chegou aqui querendo chamar o filho de Herbert Richards. Se o nome não tiver cabimento nenhum, a gente pede que a pessoa tenha bom senso na hora de registrar o filho, porque não podemos registrar certos nomes”. Mas nem sempre foi assim. O advogado Bruno Jessen explica por que: “durante décadas, houve muito desleixo por parte dos cartorários. Mesmo havendo a lei dos registros públicos para proibir a lavratura de nomes vexatórios, eles admitiram esses nomes e geraram um desgaste muito grande para os donos desses nomes.”
É comum conhecer pelo menos uma pessoa com nome curioso. Thayrid é um exemplo. Apesar das brincadeiras e enganos constrangedores, porém, ele gosta de como é chamado. “Muita gente já riu do meu nome. Perguntam: ‘rapaz, que nome esquisito é esse?’ Mas eu gosto muito do meu nome”. Há 22 anos, sua mãe, ao ler um artigo na revista Veja, gostou do nome do sociólogo autor do texto e resolveu registrar seu filho com aquele mesmo nome, acrescentando o patronímico Gadelha.
Ter nome diferente também tem benefícios. Basta perguntar por aquele rapaz estudante de Direito que tem nome estranho e todos já sabem de quem se trata. Pronuncia-se ‘táirid’, do mesmo modo que tired, palavra em inglês que significa cansado. Pronuncie errado e ouça, imediatamente, a correção curta e grossa do dono do nome. É aconselhável também não pensar que Thayrid é uma mulher, como costumam fazer as operadoras de telemarketing. “Elas falam: ‘gostaria de falar com a senhora Thayrid.’ E eu falo: ‘não, é senhor, estou aqui”.
Elishayane é outra pessoa que, apesar de ter nome incomum, não pensa em mudá-lo. A mãe queria que ela se chamasse Elis Rayane, mas juntos e com ‘sh’ no lugar de ‘r’. Acabou que todos que não são muito próximos a ela acabam por pronunciar seu nome de forma literal: “elixaiane”. “Na hora da faculdade, na chamada, o pessoal brinca. Nunca ninguém acerta o nome. Muito difícil alguém acertar. Mas já me acostumei. No começo era meio chatinho, mas hoje em dia está tudo ok. Adoro ser exclusiva.”

De blogddi.com.br

terça-feira, 28 de abril de 2009

Espere chover e vá de moto

O que faz a viagem valer a pena é justamente a dificuldade de ir e voltar - e não a facilidade que normalmente os vendedores buscam

Sidney Santos é palhaço de circo, vendedor, empreendedor, escritor e palestrante - não necessariamente nessa ordem

Recentemente, li num livro que um palhaço de circo se revela já por volta dos 3 anos de idade. A criança, devidamente maquiada e trajada, é praticamente atirada ao picadeiro. Caso não volte chorando, está pronta: é um verdadeiro palhaço circense. Se chorar, é porque não tem jeito para a profissão.
Foi bem assim comigo. Meu pai pintou a minha cara, me vestiu e me empurrou para o picadeiro. Virei o palhaço Leiteninho - escrito assim mesmo, tudo junto. O nome era porque eu era pequeno e também porque adorava esse leite, que comia de colher, direto do pote.
Meu pai fez tudo certo - mas se esqueceu de me falar sobre a opção de chorar para não ter de encarar aquela responsabilidade. "Vá, filho", disse-me ele. "A partir de agora você é um palhaço, um excelente palhaço. Vá e mostre a todos." E eu, não sabendo que podia desistir, vivi uma grande fase da minha vida, em que até os 13 anos fui uma das estrelas do circo Sul América.
Passado algum tempo, após diversas experiências profissionais, trabalhava, aos 16 anos, como representante de vendas em uma indústria de acessórios para motocicletas chamada Circuit, em São Paulo. Para visitar inúmeros clientes, usava minha linda moto (sem ter habilitação).
Vinte anos atrás, chovia muito na cidade, e foi naquele "belo dia" de chuva que me preparei para visitar um cliente que se localizava a uns 60 quilômetros de distância de onde eu morava.
Acordei cedo, tomei um banho e vesti minha melhor roupa. Coloquei meu macacão de chuva, minhas polainas, minha balaclava, meu capacete, meus óculos e minhas luvas, ensaquei meu mostruário para não molhar, prendi no bagageiro da minha moto CG 125 e me dirigi para o cliente debaixo daquela tremenda tempestade.
Após mais de 1 hora de trânsito intenso, cheguei ao cliente, uma imponente concessionária Honda. Estacionei, retirei o capacete, os óculos, as luvas, a balaclava, o macacão, as polainas. Arrumei meus cabelos (na época eram fartos), limpei o rosto, desensaquei o mostruário. Cansou só de ler? Imagine eu de fazer.
Peguei minha pasta de vendas, me dirigi à simpática garota no balcão de atendimento e disse: "Bom dia, Cláudia, lembra-se de mim? Sou o Sidney, vim te visitar e gostaria de saber se está precisando de algo hoje". Ela, tranquilamente, respondeu: "Hoje não, Sidney. Não quero nada mesmo, obrigada".
Como assim, não quer nada? Justo hoje? Sabe, gente, não tinha Cristo que me fizesse voltar, vestir toda aquela parafernália novamente e ir embora sem ter vendido alguma coisa. Eu conversei sobre outros assuntos, fui abrindo o mostruário, apresentei as novidades e finalmente vendi. Eu não tinha opção. Ou, como aconteceu quando estreei no circo, ninguém me falou que eu tinha.
Hoje agradeço a meu pai por isso. O que fazia a minha viagem valer a pena era justamente a dificuldade de ir e voltar - e não a facilidade que normalmente os vendedores buscam. Alguns (claro que não você, que está lendo este texto), só porque deram um telefonema dizendo "vou passar perto da sua empresa amanhã, pode me receber?", já acham que fizeram um esforço fora do comum. Nesses casos, quando escutam um "hoje não, obrigado", eles relaxam. Afinal, o esforço talvez não tenha sido tão grande assim.
Logo, o que vos conto é o que aprendi: caso um dia tenha um cliente difícil, daqueles que não lhe dão atenção, ao qual você nem consegue expor seus produtos ou ideias, espere chover e vá de moto.
Recebi por e-mail.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Assim que tem que ser rsrsrs

Duas semanas de casamento, o marido apesar de feliz, já estava com uma vontade reprimida de encontrar a galera pra fazer a festa. Assim, ele diz à sua queridinha:
- Amorzinho, vou dar uma saidinha mas não demoro…
- Onde você vai, meu docinho…?
- Ao barzinho, assistir o futebol.
A mulher então liga o home theater e a TV de plasma de 52′ e diz:
- Ó meu amor adorado, aqui em casa você pode ver o jogo que quiser.
- Mas no bar, meu anjo, eu também posso tomar uma geladinha.
A mulher bota a mão na cintura e lhe responde:
- Quer cervejinha, meu amor ???
Nesse momento, ela abre a porta da geladeira e mostra 25 marcas diferentes de cervejas de 12 paises: alemãs, holandesas, japonesas, americanas, mexicanas, etc.
O marido sem saber o que fazer, lhe fala:
- Meu docinho de coco… mas no bar… você sabe… o copo gelado…
O marido nem terminou de falar, quando a esposa interrompe a sua conversa e lhe diz:
- Quer copo gelado, amor?
Nesse momento ela pega no freezer um copo bem gelado, branco, branco, que até tremia de frio. O marido responde:
- Mas, minha princesa, no bar tem aqueles salgadinhos gostosos…. Já estou voltando, tá?
- Quer salgadinho, meu rei???
A mulher abre o forno e tira 15 pratos de salgadinhos diferentes:quibe, coxinha, pastel, pipoca, amendoim, coração de galinha, queijo derretido, torresmo…
- Mas, minha pixunguinha… lá no bar… tem emoção, palavrão, xingamento…
- Quer emoção, palavrão, xingamento, meu amor???
- ENTÃO VAI TOMAR NO CU, PORQUE DAQUI VOCÊ NÃO SAI NEM FODENDO, SEU FILHO DA PUTA! E SE VOCÊ TENTAR MAIS UMA DESCULPINHA DE MERDA COMIGO EU TE CORTO O PINTO FORA!

Chatices neh

1- Você tem que experimentar um óculos de sol com aquela etiquetazinha de plástico pendurada no nariz;

2- A pessoa atrás de você no supermercado bate com o carrinho no seu tendão;

3- O elevador pára em todos os andares, e não entra ninguém ;

4- Tem sempre um carro quase entrando na traseira do seu carro quando você está andando devagar, procurando um endereço;

5- O anel se solta antes da lata se abrir;

6- Você pisa em bosta de cachorro, mas só descobre depois que entrou em casa, e está no meio do tapete da sala;

7- Aquela fitinha vermelha da embalagem de Band-Aid nunca funciona com você;

8- O cachorro da vizinha late por qualquer coisa;

9- Você não consegue colocar as coisas de volta do mesmo jeito na caixa em que vieram;

10- Três horas e três reuniões depois do almoço, você olha no espelho e descobre um pedaço de alface preso no seu dente da frente (esta é fatal);

11- Você toma um belo gole na lata de refrigerante que alguém usou como cinzeiro. (ecaaaaaaa)

12- Você corta a língua fechando um envelope;

13- O pneu do seu carro que perde a metade da pressão enquanto você está tentando calibrar;

14- A estação pega muito bem enquanto você está perto do rádio, mas chia, diminui e some quando você se afasta;

15- Tem sempre um ou dois cubos de gelo que se recusam a sair da fôrma;

16- Você esquece um pedaço de pano no bolso, e toda sua roupa lavada sai cheia de fiapos;

17- O carro atrás do seu desanda a buzinar enquanto você espera o pedestre acabar de atravessar;

18- Um pedaço do papel laminado do bombom dá aquele choque quando você morde o recheio;

19- Você regula o despertador para as sete da noite em vez de sete da manhã;

20- A rádio não te diz quem cantou aquela última música;

21- Você passa creme nas mãos e não consegue segurar a maçaneta para abrir a porta do banheiro;

22- O pessoal todo que estava atrás de você na fila passa na sua frente quando o caixa ao lado abre de repente;

23- Os óculos escorregam para frente assim que você começa a suar;

24- Você não consegue saber, no dicionário, como se escreve corretamente uma palavra, porque você não sabe como se soletra esta palavra;

25- Você tem que explicar a, no mínimo, cinco vendedores diferentes de uma mesma loja que está "só olhando";

26- Você não consegue achar aquele lápis que estava na sua mão há um minuto atrás. (e as chaves, então?);

27- Você abaixa para apanhar uma coisa que caiu debaixo da mesa e bate com a cabeça na volta;

28- Você esta num engarrafamento e sempre a fila em que você está anda mais devagar (mesmo se você troca de fila);

29- Você entra na fila do cinema e esgota o ingresso justo na sua vez;

30- Tem sempre um email enorme que demora uma hora pra chegar, e quando você vai ver, é igual a outro que já recebeu antes.

domingo, 5 de abril de 2009

Os 30 anos

Fazer 30 anos - de Affonso Romano de Sant'Anna - 19 de janeiro de 2009

QUATRO pessoas, num mesmo dia, me dizem que vão fazer 30 anos. E me anunciam isto com uma certa gravidade. Nenhuma está dizendo: vou tomar um sorvete na esquina, ou: vou ali comprar um jornal. Na verdade estão proclamando: vou fazer 30 anos e, por favor, prestem atenção, quero cumplicidade, porque estou no limiar de alguma coisa grave.

Antes dos 30 as coisas são diferentes. Claro que há algumas datas significativas, mas fazer 7, 14, 18 ou 21 é ir numa escalada montanha acima, enquanto fazer 30 anos é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar.
Fazer 40, 50 ou 60 é um outro ritual, uma outra crônica, e um dia eu chego lá. Mas fazer 30 anos é mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem faça 30 anos aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará jamais 30 anos. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar os 30 anos. Fazer 30 anos é coisa fina, é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas. Fazer 30 anos, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada.

Até os 30, me dizia um amigo, a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa idade fez-se o aprendizado básico. Cumpriu-se o longo ciclo escolar, que parecia interminável, já se foi do primário ao doutorado. A profissão já deve ter sido escolhida. Já se teve a primeira mesa de trabalho, escritório ou negócio. Já se casou a primeira vez, já se teve o primeiro filho. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar.
Quando alguém faz 30 anos, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular da casa dos 29 para a dos 30 saltitantemente. Fazer 30 anos é cair numa epifania. Fazer 30 anos é como ir à Europa pela primeira vez. Fazer 30 anos é como o mineiro vê pela primeira vez o mar.

Na verdade, fazer 30 anos não é para qualquer um. Fazer 30 anos é, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente.
Fazer 30 anos é passar da reta à curva. É passar da quantidade à qualidade. Fazer 30 anos é passar do espaço ao tempo. É quando se operam maravilhas como a um cego em Jericó.

Fazer 30 anos é mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. Chegar aos 30 é hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.

Significados

Muito: é quando os dedos da mão não são suficientes.
Pouco: é menos da metade.
Ainda: é quando a vontade está no meio do caminho.
Lágrima: é um sumo que sai dos olhos, quando se espreme o coração.
Amizade: é quando você não faz questão de você e se empresta para os outros.
Vergonha: é um pano preto que você quer para se cobrir naquela hora.
Solidão: é uma ilha com saudade de barco.
Abandono: é quando o barco parte e você fica.
Saudade: é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
Lembrança: é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Ausência: é uma falta que fica ali presente.
Tristeza: é uma mão gigante que aperta seu coração.
Interesse: é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento: é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Emoção: é um tango que ainda não foi feito.
Desejo: é uma boca com sede.
Paixão: é quando apesar da palavra “perigo” o desejo vai e entra.
Excitação: é quando os beijos estão desatinados pra sair da sua boca depressa.
Angústia: é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Ansiedade: é quando sempre faltam cinco minutos para o que quer que seja.
Preocupação: é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu, sair de seu pensamento.
Indecisão: é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa.
Agonia: é quando o maestro de você se perde completamente.
Sucesso: é quando você faz o que sempre fez, só que todo mundo percebe.
Sorte: é quando a competência encontra com a oportunidade.
Ousadia: é quando a coragem diz para o coração: “Vá!” e ele vai mesmo.
Lealdade: é uma qualidade dos cachorros, que nem todo ser humano consegue ter.
Decepção: é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Indiferença: é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Certeza: é quando a idéia cansa de procurar e para.
Desilusão: é quando anoitece em você, contra a vontade do dia.
Desatino: é um desataque de prudência.
Alegria: é um bloco de Carnaval que não liga se não é Fevereiro.
Razão: é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Prudência: é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez: é um acesso de loucura ao contrário.
Pressentimento: é quando passa em você um trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Intuição: é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Vontade: é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Culpa: é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Raiva: é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Perdão: é quando o Natal acontece em Maio, por exemplo.
Renúncia: é um não que não queria ser.
Vaidade: é ter um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Amigos: são anjos que nos levantam quando nossas asas estão machucadas.
Felicidade: é um agora que não tem pressa nenhuma.
Sorriso: é a manifestação dos lábios quando os olhos encontram o que o coração procura.
Desculpa: é uma palavra que pretende ser um beijo.
Beijo: é um procedimento inteligentemente desenvolvido para a interrupção mútua a fala quando as palavras tornam-se desnecessárias.
Amor: é quando a paixão não tem outro compromisso marcado.
Não: Amor é um exagero... também não.
É um cuidar de... Uma batelada de carinho?
Um exame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez, se não tivesse sentido....
Talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor não sei definir