quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ter nome estranho pode não ser tão estranho assim

Finalmente chegou o dia de saber a solução para o dente que lhe tem perturbado em noites intermitentes. Passados quarenta e cinco minutos desde que chegou, a moça olha seu nome na lista, olha mais uma vez e chama-o cuidadosamente. Todos ali presentes, engolindo a vontade de rir, trocam olhares em busca do dono daquele curioso. Envergonhado, Lindulfo se levanta e é, mais uma vez, alvo das atenções.
Situações constrangedoras são comuns com pessoas que têm nomes pouco populares. “Assim como todas as características evidentes dos seres humanos (magras, gordas, altas, baixas), os nomes, quando destoam de uma média essencialmente aceitas, são motivo de chacotas”, explica o psicólogo e professor Paulo Germano de Albuquerque.
Maria Marcineide de Moura, 24 anos, mais conhecida como Márcia, evita revelar sua verdadeira identidade para as pessoas. “Ficam confundindo. Já me chamaram até de marceneta. É constrangedor ter que ficar repetindo o nome várias vezes para as pessoas entenderem”, desabafa. Márcia quer ser Márcia no registro civil, oficialmente. Para isso, o primeiro passo é procurar um advogado ou um defensor público.
Depois de completar 18 anos, qualquer Fridundino ou algo do tipo pode tornar-se mais um Lucas ou mais uma Eliane na multidão sem precisar apresentar qualquer justificativa perante a justiça.
Segundo advogados, o processo dura no máximo seis meses. Um Dois Três de Oliveira Quatro, Colapso Cardíaco da Silva, Vinícius Mais ou Menos de Sousa, Naída Navinda Navolta Pereira que mudam para Fabiano, Eduardo, Lúcia, Fátima…
Quando a situação exige a mudança do nome patronímico, o sobrenome, é necessário dizer à justiça o porquê da mudança. Houve um caso em São Paulo de um rapaz que era da família Boa Morte. Fez faculdade e obteve licença para ser médico. Imagine ser atendido por um médico com o sobrenome Boa Morte. Então ele solicitou a mudança, mas teve que justificar, alegando que a necessidade era questão de sociabilidade profissional.
Também pode acontecer de a pessoa ter nome comum e querer mudá-lo por mero capricho. Um torcedor fanático do Manchester United queria se chamar Manchester United. O juiz da cidade permitiu somente que mudasse o primeiro nome para Manchester, mas impediu a mudança do sobrenome. Ficou algo como Manchester Rogers.
É essencial pensar nas conseqüências que um nome pode ter na vida de alguém. É importante estar atento à maneira de como um nome pode inserir melhor ou não uma pessoa dentro de uma coletividade. De acordo com o psicólogo Paulo Germano, “o nome faz parte da construção da personalidade da pessoa. Não é o único nem o mais importante fator construtor dela, mas à medida que a gente vai se constituindo como indivíduo, o nome passa a encarnar os valores ou pelo menos a nossa historia de vida. Esse nome só tem sentido pelas relações ao redor. O nome será engraçado e as conseqüências serão difíceis para o sujeito, dependendo da comunidade em que ele se encontra e da maneira que aquela comunidade ridiculariza ou não aquele nome”.
Se os pais insistirem em registrar o filho com um nome estranho, cabe ao cartorário se negar a registrá-lo. O escrevente autorizado do Cartório Registro Civil Distrito Mucuripe, Laécio Pereira de Moura conta que “teve gente que já chegou aqui querendo chamar o filho de Herbert Richards. Se o nome não tiver cabimento nenhum, a gente pede que a pessoa tenha bom senso na hora de registrar o filho, porque não podemos registrar certos nomes”. Mas nem sempre foi assim. O advogado Bruno Jessen explica por que: “durante décadas, houve muito desleixo por parte dos cartorários. Mesmo havendo a lei dos registros públicos para proibir a lavratura de nomes vexatórios, eles admitiram esses nomes e geraram um desgaste muito grande para os donos desses nomes.”
É comum conhecer pelo menos uma pessoa com nome curioso. Thayrid é um exemplo. Apesar das brincadeiras e enganos constrangedores, porém, ele gosta de como é chamado. “Muita gente já riu do meu nome. Perguntam: ‘rapaz, que nome esquisito é esse?’ Mas eu gosto muito do meu nome”. Há 22 anos, sua mãe, ao ler um artigo na revista Veja, gostou do nome do sociólogo autor do texto e resolveu registrar seu filho com aquele mesmo nome, acrescentando o patronímico Gadelha.
Ter nome diferente também tem benefícios. Basta perguntar por aquele rapaz estudante de Direito que tem nome estranho e todos já sabem de quem se trata. Pronuncia-se ‘táirid’, do mesmo modo que tired, palavra em inglês que significa cansado. Pronuncie errado e ouça, imediatamente, a correção curta e grossa do dono do nome. É aconselhável também não pensar que Thayrid é uma mulher, como costumam fazer as operadoras de telemarketing. “Elas falam: ‘gostaria de falar com a senhora Thayrid.’ E eu falo: ‘não, é senhor, estou aqui”.
Elishayane é outra pessoa que, apesar de ter nome incomum, não pensa em mudá-lo. A mãe queria que ela se chamasse Elis Rayane, mas juntos e com ‘sh’ no lugar de ‘r’. Acabou que todos que não são muito próximos a ela acabam por pronunciar seu nome de forma literal: “elixaiane”. “Na hora da faculdade, na chamada, o pessoal brinca. Nunca ninguém acerta o nome. Muito difícil alguém acertar. Mas já me acostumei. No começo era meio chatinho, mas hoje em dia está tudo ok. Adoro ser exclusiva.”

De blogddi.com.br

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